sexta-feira, 25 de novembro de 2016

LAURO DA ESCÓSSIA



DECANO DO JORNALISMO CHEGA AOS 100 ANOS DE HISTÓRIA

Bruno Barreto
Da Redação

"Tudo quanto escrevi, procurando enfeixar em um livro, revela o desejo de deixar para a posteridade, ao simples contato de meus conterrâneos, um pouco da imagem do passado guardado na lembrança deste conterrâneo e amigo", a frase atribuída a Lauro da Escóssia revela bem o amor deste mossoroense, nascido no dia 14 de março de 1905, pelo povo de sua cidade de origem.
Lauro que completaria 100 amanhã teve uma vida intensa, professor formado pela escola normal foi responsável pela reabertura de O Mossoroense, a grande paixão de sua vida, em 1946 com a ajuda de Jorge Freire de Andrade, Ving-ut Rosado e José Augusto Rodrigues.
Antes já havia trabalhado no jornal como repórter no mesmo periódico tendo como ponto alto em 1927 quando foi o responsável pela cobertura da invasão do bando de Lampião a capital do Oeste, ocasião em que ele conseguiu entrevistar o cangaceiro Jararaca antes mesmo que o mesmo fosse interrogado pela polícia. Este é considerado um dos maiores furos de reportagem da história da imprensa potiguar, graças a isso o jornal, com 5.400 exemplares vendidos, atingiu a maior vendagem de sua história.
Lauro da Escóssia casou-se duas vezes a primeira delas com Dolora Azevedo do Couto Escóssia com quem teve 8 filhos, após a morte dela casou com Lourdes Alves da Escóssia adotandos seus filhos, com ela se manteve casado até a sua morte em 19 de julho de 1988. "Lauro foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, foi meu amigo, companheiro e marido. Tanto é que após a sua morte nunca mais casei. Em nossa vida nunca houve cansaço nem de minha parte nem da dele. Em minha mente está sempre a impressão de que ele está viajando, quando isso acontece sinto muita paz", conta sua esposa Lourdes Escóssia.
Segundo seus familiares Lauro da Escóssia era dono de um temperamento muito explosivo. "Lauro trazia no sangue o arrebatamento e a impetuosidade de seu avô, Jeremias. Panfletário e sem medo herdou tantos traços de identificação, revelados nas suas ações e reações, por vezes bruscas, senão violentas, que sempre reclamam conduta irredutível, coragem e espírito de deliberação", assim foi descrito pelo ex-prefeito de Mossoró Raimundo Nonato em depoimento para o livro 'Escóssia' de autoria do jornalista Cid Augusto.
Apesar do temperamento forte Lauro da Escóssia era um homem que não guardava rancores. "Papai estourava, mas dali a dois minutos já estava bonzinho", revelou sua filha Margarida Escóssia.
A sua relação com os filhos era muita aberta e pautada pelo carinho. "Papai era um homem à frente de seu tempo absorvia muito bem as mudanças e era muito atencioso com todos nós, a única ressalva que ele tinha com a gente era quando a gente ia para a churrascaria O Sujeito (onde hoje se localiza o clube Carcará), como ele nunca podia ir e mamãe sempre ia conosco ele dizia brincando que a gente seria levado pelo rio e parar em Porto Franco (atual Grossos)", conta Margarida.  
Essa boa relação com os filhos se repetiu com os seus netos também, a recíproca por parte dos netos era verdadeira tanto que todos eles lhe chamavam de Vôzinho. "Me recordo como se fosse hoje das conversas do meu avô, ele era um homem muito centrado em si, pensava um pouco pra falar, mas suas palavras eram sempre sábias, tinha o poder de nos dar segurança quando era abordado sobre qualquer assunto. Lauro da Escóssia não foi só um grande jornalista, ele foi também um grande avô e sempre encontrava hora para nós, por isso todos nós netos chamavam ele de Vôzinho", afirma Daniele da Escóssia.
Apesar de fazer história em Mossoró Lauro da Escóssia era um homem de hábitos simples. "A falta de vaidade de Papai era tão grande que ele fazia questão de ter apenas um par de sapatos. O prato preferido dele era bolo de leite, diabético, ele pagava para a empregada comprar o bolo escondido da gente", conta Margarida da Escóssia.
Lauro não fazia distinção entre seus amigos tanto podia ser amigo dos mais ilustres como dos mais simples. A prova disso é que duas de suas grandes amizades foram o ex-governador Dix-sept Rosado (falecido em 1951) e o pedreiro Francisco Constantino o 'Chico Boseira'. "A amizade de papai com Dix-sept era desde os tempos de prefeitura, quando ele foi secretário, a fidelidade era tamanha que um dia o ex-governador pouco antes de falecer pediu para papai guardar um bilhete em segredo o que ele fez até o final da vida. Já com Chico era uma amizade muito divertida, eles conversavam e se davam muito bem, ele brincava muito com Chico chamando ele de poliglota porque ele fazia de um tudo era pedreiro, encanador e eletricista", revela Margarida.
'Chico Boseira', ainda está vivo e relembra a sua relação com o amigo. "Quando lembro do meu amigo, vem duas coisas a minha memória: a primeira era que ele dizia que eu era seu filho mais velho e a segunda eram as nossas conversas sempre descontraídas ele sempre pedia para eu contar anedotas e fazer cantigas populares. Até o meu apelido quem colocou foi Lauro, antes me chamavam de 'Chico Roseira' porque todos jardins que plantava davam certo, uma vez ele pediu para eu fazer um para um na sua casa e as plantas morreram e ficou tudo sujo aí ele mudou o meu apelido", diz.
O seu grande prazer nas horas de descanso era ir ao Sítio Senegal, localizado em Alagoinha, que levava esse nome por ser muito seco. Lá ele ia tomar conta das cabras e galinhas que criava.
Nos últimos dias de sua vida, Lauro da Escóssia esteve muito doente, mas não perdia o bom humor. "Ele sempre estava de bom humor independente das doenças das doenças que lhe atingiam", conta a viúva Lourdes Escóssia.
 FONTE -  JORNAL O MOSSOROENSE   

LAURO SE TORNOU NOME DE RUA E MUSEU




A intensa vida de Lauro da Escóssia não poderia deixar de lhe render inúmeras homenagens. As mais visíveis são: a cessão de seu nome à rua localizada no Abolição  IV e ao Museu ao qual dedicou os últimos anos de sua vida.
Seu nome foi dado a uma das ruas do Abolição IV na década de 80 através de um decreto do então prefeito Dix-huit Rosado em reconhecimento a sua contribuição sociocultural dada a cidade. Era justamente nesse trecho que ele passou os últimos fins de semana de sua vida.
Outra homenagem importante o decano só recebeu após a sua morte: trata-se da medalha de reconhecimento outorgada pela Câmara Municipal, em setembro de 1988.
No entanto, a mais importante de todas as homenagens que Lauro poderia receber era doar o seu nome ao Museu Municipal, a antiga Cadeia Pública onde ele entrevistou o cangaceiro Jararaca, em 1927.
O museu passou a ter o seu nome em 18 de julho de 1991, após a então prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, sancionar projeto de lei do vereador Júnior Escóssia, após acatar sugestão do então diretor da casa de cultura, João Bosco de Queiroz Fernandes. "Tio Lauro era muito ligado ao museu, mesmo doente ele não deixava de vir até aqui", conta Maria Lúcia da Escóssia, atual diretora do museu.
Para se ter uma idéia do amor e dedicação de Lauro da Escóssia ao museu, próximo à sua morte ele fez a seguinte confidência a um grupo de pessoas que estavam ali com ele, entre elas o pesquisador Raimundo Brito. "Com os olhos cheios de lágrimas, Lauro proferiu a seguinte frase: 'Sei que vocês vão me enterrar, mas a minha alma vai ficar aqui dentro'", relatou Raimundo Brito.
FONTE -  JORNAL O MOSSOROENSE  

INTELECTUAIS FALAM SOBRE TRABALHO DE LAURO DA ESCÓSSIA




Grandes amigos de Lauro da Escóssia homenagearam entre eles, intelectuais do calibre de Ving-un Rosado, Raimundo Brito e Dorian Jorge Freire.
O historiador Vingt-un Rosado destacou a dedicação de Lauro da Escóssia ao Jornalismo. "Era um homem humilde que foi um servidor do Rio Grande do Norte, como um jornalista que virava noites na redação em uma vigília incansável".
O jornalista Dorian Jorge Freire o considera o maior jornalista da história da imprensa mossoroense. "Lauro foi o maior jornalista que Mossoró já teve, quando o jornal saía era sempre um grande momento, com ele nunca houve censura", afirmou.
Já Raimundo Brito preferiu falar sobre a relação de Lauro com o Museu Municipal que hoje leva o seu nome. "Sobre Lauro prefiro repetir aquilo que foi colocado no livro que ele escreveu sobre a história de Mossoró: ...a vida de Lauro, a história de Mossoró e a de O Mossoroense, como se vê tudo ali é uno e indivisível. Uma coisa assim parecida com a santíssima trindade..."
Livros de Lauro foram publicados nos últimos dez anos de vida
A produção literária de Lauro da Escóssia ficou restrita aos últimos dez anos de sua vida. O seu primeiro livro, publicado em 1978, 'As dez Gerações da Família Gamboa', em que ele fez um estudo genealógico sobre os descendentes do alferes Manuel Nogueira de Lucena, fundador da família Gamboa.
Três anos depois, o decano do jornalismo potiguar escreveu 'Memórias de um Jornalista de Província', no qual fala sobre momento importantes que viveu ao longo da história de Mossoró como a fundação das primeiras entidades recreativas e esportivas, relatando a chegada do primeiro automóvel e do primeiro avião, invasão do bando de Lampião, as secas de 1915 e 1917, fundação do Tiro de Guerra e do Grupo de Escoteiros, criação da Escola Normal e de sua atuação político-partidária nas revoluções de 1924 e 1930.
O 'Futebol da Gente', de 1982 aborda a história do esporte em Mossoró, com destaque para o momento em que cita o fato de Celina Guimarães ter sido a primeira mulher de que se tem notícia a ter arbitrado um jogo de futebol no Rio Grande do Norte.
Em 1983, ele publicou mais dois livros, 'Cronologias Mossoroenses e 'Desfolhando a Saudade', o primeiro faz uma síntese histórica da cidade, através de fatos e acontecimentos numa seqüência cronológica desde aos primórdios da capital do Oeste. Já no segundo, o autor reúne textos de sua irmã mais nova Maria Escossilda, em O Mossoroense e outros pequenos jornais nos quais ela colaborou até a sua morte, em 1935.
Em 1986 foi a vez de Lauro lançar a sua penúltima obra literária, 'Anedotas do Padre Mota - Vultos Populares e Outras Coisas de Mossoró...'. Este livro é dividido em três partes: a primeira reúne o anedotário produzido pelo ex-prefeito e vigário da Diocese de Mossoró, Padre Mota; na segunda, faz alusão às histórias dos tipos populares que conviveu; já a terceira e última etapa deste livro reúne crônicas sobre a cidade.
No ano de sua morte, Lauro da Escóssia publicou seu último livro 'A Maçonaria em Mossoró', no qual relata a história da maçonaria em Mossoró desde os seus primórdios.
FONTE -  JORNAL O MOSSOROENSE   

EX-FUNCIONÁRIOS LEMBRAM DO JORNALISTA




Divertido e exigente, este era 'Seu Lauro', como os funcionários de O Mossoroense se referiam a Lauro da Escóssia, um homem que conseguia o respeito e admiração dos que o acompanhavam na lida.
Francisco Guerra, um dos mais antigos funcionários deste jornal, lembra que a convivência com o jornalista era uma festa. "Quando o jornal ficava pronto ela gostava de levar a gente para jantar, mas antes, durante o serviço, ele era muito rígido", lembra.
Cosme Freire, o 'Vovô, outro antigo funcionário de O Mossoroense, disse que sempre que lembra de Lauro é pela dedicação dele ao jornal. "Era impressionante, ele dormia no jornal às vezes", conta.
José Ferreira Filho, que trabalhou com 'Seu Lauro', falou sobre o temperamento de seu antigo patrão: "Ele era um misto que ninguém entendia, era explosivo e ao mesmo tempo não era, quando ele estourava o que era dito não afetava a ninguém", conta.
Todos os funcionários eram tratados como se fossem seus filhos. "Seu Lauro tinha mais filhos do que os de sangue, é uma imensa lista: Juarez, Paulinho, Dedé Pretinho, Zé Almeida, Miúdo, Lauro de Pedrinho, Surica, Vicentinho, Gabriel, Peruca, Emery Costa, Guerra, os dois Vovôs (Cosme e Damião), Anastácio, Julimar, Chico Boseira, Cizinho, Wilson Bezerra, Maia Pinto, Zé Maria Alves, Zé Maia, Chico Bento, Shao-lin, Amâncio, Arnaldo, Toinho Silveira, Ivonete de Paula, Marcelino, Jânio, Socorro, João da Cruz, Flor de Maria, Bezerra, Sônia Lima, Emiliana, Nilo Santos e tantos outros que não me vêm à memória", relata.
FONTE -  JORNAL O MOSSOROENSE  

LAURO ATUOU TAMBÉM EM VÁRIAS ÁREAS




Além do museu e do jornalismo, Lauro da Escóssia atuou em áreas variadas que iam desde a política até o desporto, passando pela educação, maçonaria.
Mesmo nunca tendo assumido cargo eletivo a atuação política de Lauro da Escóssia foi muito intensa, integrante de dois partidos: o Partido Popular e do Partido Republicano.
Foi opositor da Revolução 1930 comandada por Getúlio Vargas. Foi partidário da Revolução Constitucionalista de 1932, que ocorreu em São Paulo com objetivo de implantar uma constituição no país que vinha há dois anos sendo comandado por um governo provisório.
Convidado duas vezes a se candidatar a deputado estadual recusou-se a disputar a vaga à Assembléia Legislativa, preferindo se envolver com a política através de seu jornal, que chegou a ser fechado duas vezes em virtude de suas posições a favor do regime democrático.
Lauro atuou como secretário em Mossoró nas administrações  municipais de Padre Mota, Dix-sept Rosado e Jorge Pinto. Sem contar que também foi presidente do Tiro de Guerra de Mossoró e o Centro Regional de Escoteiros de Mossoró.
A sua atuação política se estendeu ao desporto quando dirigiu entidades como a Associação Mossoroense de Desportos Atléticos (atual Liga Desportiva Mossoroense), dirigiu o Humaitá Futebol Clube, o Clube Atlético Mossoroense e a Liga Operária de Mossoró.
Outra área que Lauro atuou foi na Maçonaria, ele fundou a Loja Maçônica João da Escóssia. Ele foi o primeiro venerável, cargo máximo de uma loja.
Além disso, Lauro foi professor primário formado pela Escola Normal de Mossoró, em 1925, em 1928 começou a dar aula no serviço público, em 1930 foi contratado em definitivo, ele trabalhou durante 33 anos nessa área. Lauro ainda foi um dos responsáveis pela vinda do Tiro de Guerra para Mossoró e um de seus primeiros presidentes.
 FONTE -  JORNAL O MOSSOROENSE  

Quem sou eu

Minha foto
AMO A NOSSA QUERIDA E AMADA CIDADE DE MOSSORÓ, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, SITUADA NA MESORREGIÃO OESTE POTIGUAR, TERRA DE SANTA LUZIA