FERREIRA FILHO
Abril de
1960. Início da campanha para governador do Estado. O então candidato (depois
eleito) Aluízio Alves começava a investir alto na mídia, e os órgãos de
comunicação estavam "de bem com a vida". Eu acabara o primário, e
minha avó, Dona Cândida ("tratadeira" de mulher de resguardo),
levou-me ao jornal O Mossoroense para ser apresentado a Seu Lauro, pedindo-lhe
que me arranjasse um emprego. Fazer "qualquer coisa". "Se você
tem vontade de trabalhar, vai se sair bem por aqui", disse-me ele, com o
sorriso sempre aberto.
Aquele
homem viria a ser meu pai, profissionalmente falando, pois, filho e neto de
dono de jornal, já nascera com o dom da profissão nas veias. Começava ali a
minha trajetória de aprendizado dentro das oficinas, sempre incentivado por
ele, que, de cara, gostou de mim. Empenhei-me dentro das oficinas e fui
galgando profissões, da mais simples a mais sofisticada para a época, que eram
de varrer o prédio e derreter chumbo à de linotipista.
Era
brincalhão ao extremo, às vezes recriminado severamente pelo filho Lauro da
Escóssia Filho. Tratava a todos nós, seus empregados, como a seus próprios
filhos. Humano, correto, tinha uma preocupação exagerada com todos que o
serviam. Se, na hora da raiva, cometia alguma injustiça, tinha a humildade de
desfazê-la com a naturalidade dos justos. Gostava de "atiçar" Zé
Almeida (um dos nossos) para fazê-lo dizer impropérios aberrantes, para com
isso se contorcer em estrondosas gargalhadas. Fomos expulsos, em 1961, por uma
enchente no rio Mossoró, indo para o prédio antigo do Colégio Diocesano Santa
Luzia (dos Padres), onde hoje funciona a agência Centro do Banco do Brasil.
Uma grande
dor lhe cortou o coração, quando, em 1963, O Mossoroense foi obrigado a fechar
suas portas, pois as coisas se tornaram difíceis ao ponto de não poder
continuar. Ficou uma pequena gráfica funcionando. Lauro Filho sustentando,
quase totalmente, com o seu salário, os poucos empregados que ficaram. Eu me
desliguei da empresa em busca de novos caminhos.
Novembro de
1970. Convocado a voltar a O Mossoroense na sua reabertura, encontrei Seu
Lauro, sorriso aberto. Acho que renascera. "Zé Ferreira, você faz parte da
família O Mossoroense", dizia-me. Viuvez, nova família, coisas que mexeram
com sua vida, não o deixaram diferente para conosco, seus "filhos".
Quando "solteiro", fizemos muitas farras juntos. Andávamos por aí, ele,
eu, Anastácio, Guerra, Vovô e outros, quando se gabava de ser um patrão que
tinha bom relacionamento com seus empregados.
1975. A
penúltima dor. O Mossoroense foi vendido ao grupo que hoje o comanda.
"Gostaria que permanecesse no jornal o mesmo pessoal que comigo trabalhou
até hoje", argumentou. Foi nomeado diretor do Museu Municipal, que hoje
tem o seu nome. A 20 de julho de 1988, a última dor (a da morte) se abateu
sobre ele, seu nobre coração não agüentou e ele partiu. 12 anos nos separam de
Lauro da Escóssia. Não sentimos a sua falta, pois ele cumpriu a tarefa a que
foi incumbido aqui na terra. Mas deixou em todos nós, que o conhecemos, um
sentimento que não se pode evitar: SAUDADE.
FERREIRA
FILHO é do setor de composição da Gazeta do Oeste
FONTE JORNAL O MOSSOROENSE
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