LÚCIA ROCHA
Durante a
infância tive amizade com algumas pessoas de idade avançada. Quando falam em
seu Lauro da Escóssia, digo que foi meu amigo de infância. Explico: ele era avô
de Florina, Cláudia e Valéria - filhas de Margarida Escóssia - e minhas amigas
de infância. Fomos vizinhos na rua Mário Negócio.
A gente se
divertia na rua mesmo. Na construção da Padaria 2001 brincávamos de
esconde-esconde no canteiro de obras. Mas quando as brincadeiras eram na casa
delas, que moravam com o avô jornalista, eu deixava de brincar e ia conversar
com seu Lauro, meu primeiro professor de jornalismo. Deliciava-me ouvindo suas
histórias de repórter de província.
Em casa ele
passava o tempo todo lendo. Por diversas vezes me contou da entrevista com
Jararaca na cadeia pública de Mossoró, onde hoje é o museu que leva o seu nome.
No verão de
1988, passei as férias na redação de O Mossoroense colhendo material para um
trabalho da UFRN. Nem acreditava que estava mexendo e tocando nas coisas de seu
Lauro... Uma pessoa de caráter, que viveu para o jornalismo ético, comprometido
com a verdade, com os fatos e não as versões. Que fazia jornalismo e não
bajulismo. Hoje um fenômeno mundial.
Para quem
não sabe, Lauro da Escóssia fazia de tudo no jornal: fotógrafo, repórter,
vendedor e criador de anúncios, administrador, chefe de reportagem, editor,
diagramador e por aí vai. Sem esquecer que ele fazia tudo isso numa época em
que não havia computador, notebook, gravador, Internet, MSN, celular, fax,
carro de reportagem, link e tudo o que nossos veículos de comunicação oferecem
como ferramenta para o repórter de hoje.
Sempre
estou me lembrando de seu Lauro. E aprendendo com suas atitudes, iniciativas e
ousadia. No ano passado um colega não estava conseguindo fazer uma matéria com
doutor Milton Marques e pediu ajuda, pois o homem estava ocupado demais com as
instalações da TCM.
Consegui um
tempo na agenda dele e a tal entrevista ficou para as 15 horas. O homem
ocupadíssimo transferiu outras ocupações. Ficou à tarde toda preso a esse
compromisso e o repórter não apareceu. Pior, não comunicou nada.
Fiquei
sabendo disso depois, por Stella Maris. Liguei para o colega e alegou que ficou
esperando um carro do jornal e não apareceu nenhum. Bem, contei a ele a
história de seu Lauro e repeti o que disse acima: seu Lauro não tinha isso,
isso e aquilo e fazia um jornal inteiro sozinho. Como é que a gente tem hoje
isso, isso e aquilo e deixamos de cumprir uma simples pauta?
Veja bem, o
repórter ficou na 'esperança' de aparecer um carro e, 'esquecendo' que o homem
da TCM é ocupado demais, poderia tê-lo dispensado pelo telefone, fax, Internet
ou celular.
Se vivo
hoje, seu Lauro teria ido de mototáxi.
Lúcia
Rocha, cientista social e jornalista, ex-aluna e amiga de infância do
jornalismo de Lauro da Escóssia.
FONTE - JORNAL
O MOSSOROENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário